terça-feira, 30 de março de 2010

Pode chegar, é de grátis!


Resenha do livro "Free - o futuro dos preços", de Chris Anderson - Editora Campus, à disposição para leitura na Biblioteca Metara


Já se foi o tempo em que “leve 2 pague 1” era considerado grátis. Em qualquer promoção desse tipo, sejam pizzas ou sabão em pó, todos sabemos que pagamos pela parte “gratuita”. Mas e se alguém batesse na porta da sua casa e desse a você um aparelho de barbear? Assim. Dado mesmo. Sem te pedir nada em troca.

king Gilette, que não por acaso tem o sobrenome dos famosos aparelhos de barbear, foi um dos primeiros a usar a filosofia do grátis de verdade. E isso foi nos primórdios do século XX, nos Estados Unidos. Ele percebeu que se desse aparelhos de barbear para todos os moradores de uma cidade, aos poucos criaria a demanda pelas lâminas de barbear, estas sim cobradas. Como estratégia de vendas podemos perceber que foi um sucesso, afinal seu sobrenome é conhecido por todos no planeta.

Parecido aconteceu com Pearle Wait, que inventou a gelatina no final do século XIX, também nos Estados Unidos. Só que ninguém comprava, era um fracasso. A gelatina nessa época era uma gosma sem cor, que não atraía muito as pessoas. Eles se esforçaram para vender a idéia de que a gelatina era uma ótima sobremesa mas não decolou. Venderam a idéia, O.Woodward comprou por uma bagatela, percebeu que precisava gerar a necessidade pelo produto. Distribuiu de porta em porta por quase todos os estados dos EUA catálogos de receitas com a tal gelatina, só que coloridas, em forma de estrela, de animais... resultado: as crianças viam isso nos catálogos e praticamente obrigavam os pais a comprarem a tal gelatina.

O catálogo realmente foi dado para os pais das crianças, pois muitos não compraram a gelatina e não tiveram que pagar nada a ninguém. O mesmo ocorreu com as lâminas de barbear. Foi grátis de verdade. Sem pegadinha. Sem nada escondido. E todos os dois ganharam muito dinheiro com isso.

Agora responda: quanto você paga para usar o gmail? E o MSN? E o Google docs? Quanto você paga para fazer uma busca no Google????? Então como pode uma empresa dar tudo e mesmo assim ter um lucro gigante?

Ao disponibilizar conteúdo gratuito na internet a Google cria a demanda pelo serviço, afinal todos precisamos de editores de texto, planilhas eletrônicas, caixas de e-mail praticamente infinitas, não é mesmo? Com isso são milhões de pessoas que, com a sua navegação, passam todo o tipo de informação de seus hábitos, de seus cliques. Junte-se a isso um sistema que coloca a publicidade que tem a ver com determinada busca exatamente ao lado do resultado encontrado e você terá uma mistura de serviço prestado de graça (achar uma informação que tanto procurava) mais um anunciante (que está vendendo exatamente o que você estava querendo). O anunciante paga ao Google para aparecer ali naquele local e todos ficam satisfeitos: o usuário de internet, que não pagou nada pela informação; o anunciante, que mostrou a sua marca a um público específico e interessado em seu produto; e ainda a Google, que está bilionária neste exato momento.

Vemos então que dar alguma coisa nem sempre é sinônimo de não ter lucro ou retorno com a operação. Aliás, se for bem feito, dar alguma coisa pode ser a melhor opção.
Uma estratégia muito usada por desenvolvedores de jogos é não cobrar um centavo de quem joga determinado game, mas pede algum dinheiro para você ter facilidades. Exemplo: seu personagem pode demorar dois dias para sair de uma região para outra em um jogo, mas pagando ele pode adquirir um veículo e chegar primeiro do que vários outros jogadores.

O modelo mais usado pelos veículos de informação na internet é o de oferecer conteúdo gratuito irrestrito e cobrar de anunciantes pelo tráfego que produzem, mas esse não é o único meio. Os desenvolvedores de software oferecem downloads de versões simplificadas de seus programas e cobram se você quiser ter a versão completa, com diversas outras ferramentas. Mais uma vez essa é a estratégia que o grátis usa com mais propriedade: gerar demanda e depois, só depois, cobrar de quem estiver a fim de adquirir algo completo ou com mais funcionalidades.

Enquanto a grande maioria dos músicos no mundo vende seus CDs caríssimos, pois precisam pagar gravadoras, distribuidoras etc, a banda Calypso vende os seus a 5 reais e não faz cara feia quando descobre que muitos de seus produtos vendidos são piratas. Afinal, eles chegam a uma pequena cidade do interior de Pernambuco, por exemplo, e a cidade inteira sabe de cor suas canções. Seus shows são todos lotados e lá dentro são vendidos mais produtos, aproveitando-se do calor do momento. A banda responde assim quando algum produtor oferece-se para pagar as passagens aéreas dos integrantes da banda para algum show: “obrigado, mas temos nosso próprio jatinho”.

A pirataria, aliás, é um tema muito interessante no mundo do grátis. A indústria fonográfica já deixou de ganhar bilhões de dólares com os MP3 sendo baixados na internet. Mas perguntem-se quantos artistas não saíram do anonimato diretamente para as paradas de sucesso com seus nomes e músicas sendo cantados por uma legião de fãs. Tudo porque conseguiram as músicas gratuitamente, gostaram do que ouviram, pediram pelas músicas nas rádios, vários compraram o CD depois e muitos foram aos shows quando estiveram em suas cidades. Quando o preço é zero a pirataria é uma aliada.
Existe uma forma de se ganhar dinheiro realmente não cobrando pelas coisas. A internet é um campo aberto para essas experiências no momento em que faz custos desaparecerem ou serem tão baratos que não são cobrados. Uma loja virtual não gasta com estoques, com vendedores. Seus custos são praticamente os mesmos para um ou mil clientes e isso possibilita trabalhar com o grátis de forma mais simples. Ousar na internet é mais barato e oferece menos risco do que no mundo real.

Aprenda a usar o grátis e perceba que preço zero pode ser muito diferente de lucro zero. Basta perguntar no Google.